Ana Furtado asks for unretouched pictures and talks about healing from cancer

No especial da Semana da Mulher do Gshow, apresentadora solta a voz sobre temas como saúde, família e prazer: ‘Minha positividade me levou muito além do que eu imaginava’

“Seja feliz como você é. Você é única, especial, não tem que ser outra pessoa… Seja você!”, encoraja Ana Furtado. E assim a artista tem sido na prática: 100% ela. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, em casa e no trabalho… Desde que se libertou da busca inalcançável pela perfeição, aprendeu a viver com mais leveza. Hoje, dá de ombros para padrões. De sorrisão largo e contagiante, essa carioca da Tijuca, de família portuguesa e chamada pelos íntimos de Bia (Ana Beatriz), mantém um olhar positivo diante de tudo o que a vida lhe apresenta.

“Antes, achava que tinha que ser perfeita, saber de tudo. Hoje não. Sou real, de carne e osso, imperfeita e ainda assim sou bela. Não busque a perfeição porque ela não existe. Confesso que busquei por muitos anos e nunca encontrei.”

“Era ansiosa, crítica, não conseguia aproveitar o momento porque queria ter feito melhor. Como perdi tempo…”, reconhece Ana.

Neste especial da Semana da Mulher, que celebra a importância da voz feminina e a luta por direitos, a apresentadora do É de Casa bate um papo sincero, olhos nos olhos, sobre suas batalhas e vitórias. Conta como lidou com um câncer de mama (descoberto há dois anos) e como o processo de cura foi transformador. Fala da decisão de continuar trabalhando mesmo sentindo dores, do apoio e do amor que recebeu da família, amigos e público. De daltonismo, vaidade, menopausa, prazer…

Casada há 24 anos com José Bonifácio Oliveira, o Boninho (diretor executivo de gênero variedades na Globo), mãe de Isabella, de 12, Ana já foi modelo antes de ser atriz e comunicadora. Também cruzou a Passarela do Samba como rainha de bateria da Grande Rio (2012), sabe pilotar carros de corrida e, em quase 30 anos de carreira, quer mais é seguir se aventurando, se desafiando, vivendo e aprendendo…

“Eu consegui! E ainda tenho muito o que sonhar e conquistar. É uma sensação tão vitoriosa ter escolhido uma carreira, topado sonhar um sonho. Ele não só se tornou realidade como fez sentido para minha vida, determinou o rumo de tudo que tenho e do que sou hoje. Me sinto muito feliz e, acima de tudo, sortuda.”

No estúdio fotográfico, ela se empolga com os looks de alfaiataria e se diverte para a câmera com total intimidade. Está em casa, e faz a equipe se sentir assim também. É falante, engraçada, generosa… No meio de tantas caras e bocas toca “Survivor”, sucesso do Destiny’s Child, e Ana canta como um hino: “I’m a survivor, I’m not gon give up, I’m not gon stop, I’m gon work harder, I’m a survivor, I’m gonna make it, I will survive, keep on survivin”. (“Eu sou uma sobrevivente, não vou desistir, não vou parar, vou trabalhar duro, sou uma sobrevivente, vou conseguir, vou sobreviver, vou continuar sobrevivendo”).

E faz uma única exigência:

“Não quero nenhum tipo de retoque nas minhas fotos. Quero ser quem sou. Quero me mostrar como sou, a minha verdade. Essa sou eu!”

Trabalho

“Sempre fui uma mulher de muita coragem. Nunca tive medo de tentar, arriscar, fazer, errar… Busco em cada momento da minha vida aquilo que me traz felicidade. Quando tenho esse compromisso, sou verdadeira comigo e com os outros, e isso se reflete no resultado do meu trabalho. Como comunicadora, tenho que ter esse carisma, esse alcance.”

“Descobri, por acaso, a televisão e sabia que ser atriz e comunicadora era o que me faria feliz por muitos anos. Continuo com essa certeza, mas vou fazer 47 anos e tenho me perguntado: ‘Será que é isso que vou continuar fazendo pelo resto da vida? Será que ela vai me surpreender com novidades?’. Eu, mais do que nunca, estou aberta a isso tudo.”

O show tem que continuar…

“É uma caminhada que não é fácil. Receber o diagnóstico de um câncer vem com tanto peso, tantos significados para a vida de qualquer um. É um baque, um susto. O câncer, em um primeiro momento, é uma grande ameaça e, para muitos, continua sendo. Então, desde o começo, me propus a ter uma aceitação positiva da doença e essa aceitação me levou a me adaptar a esses novos cenários.”

“Minha positividade me levou muito além do que eu imaginava. Não pensei que fosse ser tão forte quanto fui. Me manter positiva foi crucial para eu conseguir continuar em pé, trabalhando, cuidando da minha filha, de casa, do meu marido… Vivendo do jeito que sempre vivi.”

“Poderia ter ficado em casa, minha empresa me liberou, me deixou decidir o que eu quisesse. Mas trabalhar, para mim, foi tão importante no sentido de que eu não tinha só a doença como foco, além disso e da minha dedicação à cura, também queria me dedicar a algo que me traz felicidade. O trabalho me deu força para eu me sentir viva e capaz.”

“Tive dores. Passei por muitas coisas que vocês não imaginam no ao vivo, em cima do palco, mas não me arrependo. Talvez se eu não estivesse trabalhando não teria passado por todo esse processo da forma como passei, sabe? De cabeça erguida, com ânimo, me sentindo com esse poder de domínio sobre mim, sobre meus sentimentos, meu corpo. Sou capaz, eu vou e vou conseguir.”

Inspiração

“O mais importante disso tudo é que acabou contagiando tanta gente. É algo que fiz sem essa pretensão, mas tenho certeza de que salvei muitas vidas. Acordava e agradecia por mais um dia e falava pra mim mesma: ‘Vamos levantar e viver o hoje porque é possível. É difícil, mas é possível’.”

Leveza

“Minha marca registrada é meu sorriso. Hoje, levo a vida com leveza, mas nem sempre fui assim. Era criteriosa, perfeccionista, crítica do meu trabalho, e a doença me ensinou muita coisa, principalmente a valorizar o imperfeito.”

“Meu primeiro momento de leveza foi quando minha filha nasceu. Me ver ali, numa continuidade, foi extraordinário. Tive essa primeira virada de chave para me cobrar menos. Depois, o diagnóstico veio para me dar uma chacoalhada: ‘Olha, se você acha que está acertando, precisa mudar e puxar o freio’. Entendi que precisava parar com tudo, me reconhecer, ressignificar para eu poder entender qual era meu propósito de vida.”

“Descobri que a felicidade está nas pequenas coisas. Tenho esse compromisso diário e o resultado é que, fazendo isso, consigo tirar o foco de um estresse, de uma cobrança que eu tinha, e valorizar mais a vida.

Transformação

“Me considero uma pessoa completamente diferente. Claro que ainda sou alegre, extrovertida, divertida, mas meus valores mudaram.”

“Sempre pensei muito no amanhã. Quando ganhava um papel, dizia: ‘Legal, mas o que vou fazer depois?’. Já estava em um processo de ansiedade e isso me consumiu durante anos. Agora, não quero mais saber. Não vou buscar de forma automática. Tenho que estar satisfeita com meu dia. O amanhã só existe se você vive o hoje. Depois que a gente entende e aplica isso na vida, ela muda completamente o sentido e para muito melhor.”

Fragilidade

“Quando recebi a notícia, não tive medo de morrer! Até me surpreendi, tinha certeza absoluta de que iria me curar. Mas é uma ameaça. Tive medos: de como ia corresponder ao tratamento, como ia me sentir, como as pessoas do meu lado iam me tratar… Pensava em como segurar essa onda por mim e minha família. Depois entendi que nada acontece por acaso e deixei de perguntar ‘por que comigo?’. Passei a me perguntar ‘por que não comigo?’, aí tudo mudou. Isso não significou que não tive momentos de tristeza, tá?”

“Acho que a tristeza é muito importante para vida, em geral. Ela foi importante para eu construir minha felicidade. Fiquei triste, mas tenho todos os motivos para ser feliz, afinal, estou viva. Tive condições de me tratar, tenho minha família do meu lado, estou caminhando bem…”

Análise

“Comecei a fazer análise porque acho importante estar com a cabeça boa e compreendi isso, que para ser feliz é preciso um pouco de tristeza. E tudo bem. Faz parte da nossa natureza, do nosso dia a dia, do processo. Lidei com a tristeza de uma forma franca. Tive momentos de recolhimento, de pura felicidade, de gratidão e de sofrimento porque sentia dores, passava mal, tinha dias que não estava tão forte quanto gostaria para apresentar um programa.”

“Às vezes, via minha filha cabisbaixa e ficava imaginando se ela estava preocupada comigo, achando que eu fosse morrer… São coisas que te balançam, mas em nenhum momento deixei que isso me desestruturasse. Vivi vários processos da doença.”

“Mas sempre tive certeza de que não morreria disso, e não vou! Minha profissão foi como um remédio para mim, um apoio, um suporte e vai continuar sendo.”

De verdade

“Sempre fui muito verdadeira. Se estou triste, estou triste; se estou alegre, é alegre, e se estava doente, estava doente… No primeiro momento, não tinha respostas suficientes para dar para as pessoas, então me resguardei para poder entender todo o processo. Sempre entrei pela porta da frente do hospital, de um centro de oncologia, em algum momento alguém iria descobrir. As pessoas olhavam para mim e eu ficava angustiada porque não tinham ideia do que estava passando e minha vontade era dizer: ‘Está tudo bem’. Mas olha que conflito. Chegou uma hora em que disse: ‘Preciso contar porque vai me fazer bem, porque vou receber muito amor, carinho, apoio… E porque vou ajudar muita gente. Talvez esse tenha sido o maior motivo.”

“Como pessoa pública e comunicadora tenho essa responsabilidade. De falar a verdade para o público e não seria diferente. Foi a melhor decisão que tive. A partir do momento em que as pessoas sabiam o que eu estava passando, foi uma onda de amor, uma coisa tão maravilhosa, tão lindo de ver. Recebi inúmeros depoimentos de mulheres me agradecendo por ter contado que descobri através do autoexame e que, depois disso, elas também descobriram.”

“Um dos meus maiores propósitos é esse: desmistificar a doença, apoiar e ajudar quem precisa e mostrar que é possível. Eu, sendo um exemplo, de alguém que ainda está em período de remissão, porque são cinco anos – vou fazer dois anos de operada agora dia 9 de abril – sei da minha responsabilidade. Isso empodera.”

“O meu maior desejo é retribuir todo o carinho e apoio que recebi. Faço parte do Instituto Protea, um projeto lindo que, através de doações, oferece consultas e tratamentos para mulheres de baixa renda diagnosticadas com câncer de mama. O câncer de mama tem cura quando diagnosticado precocemente e tratado. Damos amor, dignidade e condições de cura a essas mulheres que precisam tanto de ajuda.”

Onda de amor

“As pessoas do lado se desestabilizam, mas tentam se manter fortes para não te colocarem para baixo. Todo mundo foi soldadinho que ficou forte do meu lado, mas eu me preocupava muito porque sabia que, no fundo, por trás daquela armadura, tinha um coração sofrendo. Também tentava trabalhar isso com eles. A forma como contei para minha mãe e minha filha demonstra minha certeza. Eu disse: ‘Fui diagnosticada com câncer, mas já venci. Já estou curada! Não se preocupem. Vou fazer tudo o que tiver que fazer, mas já me sinto curada’. E assim foi. Cabeça comanda tudo.”

Daltonismo

“Sou louca por cores, mas minha relação com elas sempre foi difícil (ela não consegue distinguir bem o marrom, vermelho e verde). Quando criança, era muito zoada porque errava os desenhos, até descobrir que era daltonismo. Só que sempre fui uma apaixonada pela vida e nunca me frustrei pelo fato de não enxergar as cores que vocês enxergam, porque eram as minhas cores. Tem coisa mais especial do que isso? Cada pessoa não tem seu olhar para a vida e cada olhar não é diferente? O meu também. Sempre aceitei essa minha condição de boa e até me divertia quando, às vezes, saía sem combinar. Até que descobri os óculos (especiais).”

“Já tinha ouvido falar, mas não tinha tido tempo de comprar tamanho meu desencanamento com essa questão. Não preciso corrigir nada, mas fiquei curiosa. Vivi tanta coisa e quis ver o mundo que vocês veem. Foi bem emocionante porque era a emoção da primeira vez. Confesso que, como tenho as cores como referência de alegria, penso em aquarela, na minha filha, e, de repente, enxergar o que ela enxerga foi o que mais me emocionou. Foi lindo.”

Família

“É tudo… Alicerce, referência, gratidão, acolhimento, ensinamento, colo, força… O que tenho de mais especial não é fama, coisas materiais, é minha família, porque posso perder isso tudo, mas eles vão estar sempre lá. É minha maior riqueza.”

“Sou casada com um homem extraordinário há 24 anos. Foi um encontro muito especial e que o trabalho me deu. Nos conhecemos quando eu apresentava o ‘Ponto a Ponto‘ (1996) aos domingos. Olha quantas coisas maravilhosas construí e conquistei. Minha família é uma delas e meu casamento também. Conhecer meu marido foi um dos maiores presentes que tive na vida.”

Vaidade

“Sou libriana com ascendente em virgem, ou seja, foco na beleza mais perfeccionismo. Já sofri muito por causa disso. Buscava perfeição do meu corpo, dos cabelos, profissão, tudo… Até o momento em que comecei a entender que a desconstrução é o maior carinho que eu poderia fazer por mim.”

“Vou fazer 47 anos, estou no início da menopausa. Meu corpo era como antes? Não! Tem as mesmas curvas, músculos, pele rígida? Não. Mas me sinto muito mais bonita do que antes. Me aceitei do jeito que sou.”

“Se a idade está me dando rugas, gorduras localizadas, celulites, se estou passando por isso é porque estou viva. Se estou tendo a oportunidade de começar a viver a menopausa é porque tenho o privilégio de estar viva. Não significa que eu tenha que viver mal esse momento. Vai ser da melhor forma, me alimentando bem, fazendo meus exercícios físicos…”

Prazer

“A maturidade faz com que você vá se conhecendo e consiga discernir o que te faz bem, o que te agrada, te dá prazer.”

“Como uma pessoa pública, acho importante falar para mulheres que acabaram de dar à luz, por exemplo, que o pós-parto não é fácil. A gente fica insegura, nosso corpo não é o de antes, não se acha sexy o suficiente para o parceiro, são tantas questões que paralisam e afetam a libido.”

“Tive queda de libido no pós-parto porque não me encaixava naquela imagem que eu via, não me reconhecia, cheirava a leite… Era difícil. Aí o tempo me trouxe autoconhecimento. Hoje, sei que tudo isso é cabeça.”

“Quando me disseram que na menopausa a libido cairia muito, eu imediatamente me lembrei do meu pós-parto. Como minha cabeça atrapalhou. Mas não deixo mais que isso me trave, porque são questões superáveis. Nesse momento, o que me importa é ser essencialmente feliz.”

Maternidade

“Não digo que é meu melhor papel, é meu maior e melhor desafio. Conforme o tempo foi passando, entendi que não sou a Mulher-Maravilha, sou uma supermulher. E posso não ser a melhor mãe do mundo, mas estou me esforçando e buscando ser diariamente a melhor mãe para a Isabella. E isso basta. A gente erra, acerta, exagera, libera, vai aprendendo junto. Isabella me ensinou a ser mãe.”

Reportagem Flávia Muniz
Vídeo 
Raphael Almeida
Produção 
Juliana Pinna
Fotos 
Vinícius Mochizuki
Assistente de fotografia 
Rodrigo Rodrigues
Stylist 
Alê Duprat
Assistente 
Kadu Nunes
Beleza 
Guto Moraes

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